A difícil arte de fazer escolhas

 

Tudo começou quando, um dia desses, no meio de uma discussão, acabei confessando que eu não simpatizo com nenhum partido político no Brasil. Que sequer acredito que eles realmente tenham alguma ideologia. Que ideologia  é uma coisa muito “flexível” por aqui, tanto quanto valores e interesses.

Uma amiga com perfil mais “militante”, que não raramente se inflama diante de discussões desse tipo, não curtiu meu “ateísmo político”. Reagiu ao meu comentário dizendo que era importante se posicionar.  Em outras palavras, ela quis dizer que eu era muito em cima do muro e que admirava mais as pessoas que sabem escolher um lado. Acho que fiquei remoendo essa até hoje.

Em alguns momentos, cheguei a me questionar se não era esse mesmo o meu problema. Se eu não teria uma imensa dificuldade em me comprometer com qualquer coisa, já que sou também solteira e minha vida profissional é um eterno dilema. Será que eu tenho uma dificuldade maior do que o normal em simplesmente marcar um X em alguma alternativa, nas várias questões dessa vida? Pode ser.

Por outro lado, me fiz também uma pergunta simples: mas e quando a gente não se convence que qualquer uma das alternativas é boa de verdade? Devemos nos acostumar com a “menos ruim” delas? Aceitar a escolha e defendê-la (cegamente, se preciso for), só pra mostrar ao mundo o quanto temos convicções?  Fazer “dos males, o menor” um modo de vida, uma regra, um mantra?

Começar a ver uma certa beleza em...

Votar no candidato ao governo que é menos corrupto.

Me candidatar ao emprego que é menos mal pago.

Pagar um aluguel com valor menos exorbitante.

Morar na cidade com índices de violência menos elevados.

Abrir uma empresa que tem menos chances de falir.

Contratar o serviço que desrespeita menos o consumidor.

Optar por um ensino menos deficiente.

Frequentar a praia que é menos poluída.

Dar chance ao pretendente menos “galinha”.

E por aí vai...

Isso é escolha?  Acho que parece mais falta de escolha.

A receita atual da felicidade parece ser simples: baixe (muito) todas as suas expectativas e comece a enxergar flores nas coisas ruins que você vê.

Menos não é mais. É só uma desculpa triste pra gente se acostumar a não ter tudo aquilo que mais desejamos. É só uma maneira de fingir que estamos indo a algum lugar, fazendo escolhas que nunca nos levarão onde realmente gostaríamos de ir. É, acima de tudo, a falta de coragem de dizer “eu não aceito isso”.

Tenho imensas chances de acabar frustrada, mas nunca consigo me conformar. Eu sempre esperei mais. Nada de coisas absurdas, ou impossíveis. Meus sonhos não eram nem megalomaníacos, eram apenas normais. Mas parece que tudo o que era pra ser normal na vida, virou utopia, conto da carochinha. Hoje em dia, se você conseguir andar por aí sem nunca ser assaltado, já dá pra escrever um conto de fadas a respeito. Com um final emocionante como: “escaparam da bala perdida e viveram felizes para sempre”. Qualquer coisa que não é boa, mas não é tão ruim assim, já é considerada uma sorte grande.

Esse é o novo feliz?