O difícil caminho das nossas construções

 

Quando algo ruim acontece com a gente, por menor que seja essa coisa, ela nunca passa despercebida.

Os graus de chateação podem variar, de pessoa pra pessoa, mas é muito comum a gente reagir se sentindo injustiçada(o).  A gente se sente sem sorte, tem raiva e não consegue entender por que parece que as coisas cismam em "conspirar contra" as nossas vontades, ou necessidades.

Com o tempo, a gente até começa a aprender a lidar com isso, a respirar fundo e não enxergar esses contratempos da vida com a lente de aumento da nossa irritação. Mas é sempre fácil se trair, basta estar num dia mais atribulado, para qualquer coisinha errada se transformar no apocalipse.

Por outro lado, é engraçado como nunca reagimos com essa mesma intensidade, quando pequenas coisas boas nos acontecem. Muitas vezes, elas acabam vistas como pequenas mesmo, ou talvez não tão grandes como precisávamos que elas fossem.

Quando a gente pensa nas coisas que gostaríamos de conquistar, costumamos nos esquecer que poucas delas (pouquíssimas mesmo) acontecem rapidamente, ou num golpe de sorte. A maioria das nossas conquistas são atingidas depois de uma infinidade de pequenas vitórias  - e derrotas também - que se acumulam ao longo do caminho. Naquele caminho onde a gente passa a maior parte do tempo achando que ainda não "chegou lá", muitas vezes resmungando e sentindo a nossa motivação subir e descer como numa montanha russa.

Mas qualquer progresso, por menor que seja, é um progresso. Não comemorá-lo é esquecer de ser feliz. É condicionar a felicidade a um tempo distante, sempre além do nosso presente, que é onde a vida acontece de verdade.

É possível que muitos só compreendam isso no futuro, depois de terem alcançado certas metas. Naquele momento em que olham pra trás e conseguem enxergar claramente todo o caminho percorrido. Vista dessa perspectiva, toda a evolução de suas trajetórias deve parecer bem mais evidente. Sabemos de onde saímos, por onde passamos e onde chegamos. Mas enquanto ainda estamos lá, "amassando aquele barro" pra fazer tudo dar certo, acumulando pequenas vitórias, nem sempre nos damos conta do quanto cada uma delas é importante.

Ter um sentimento de gratidão em relação à vida é saber aproveitar o caminho. É resolver ir visitar uma cidade bonita e curtir não apenas a chegada, mas as paisagens vistas durante o trajeto. É saber que até o restaurante tosco de beira de estrada, no qual você teve que parar, por falta de opção, rendeu uma boa história. É, acima de tudo, se perceber em movimento e lembrar que,  por mais curvas que essa estrada tenha, é melhor estar nela do que nunca ter tido a coragem de sair do lugar.