Nós e nossas bolhas
Parece haver uma tendência de isolamento no mundo. Desde aquele indivíduo que resolve se fechar em suas próprias certezas e só conversa com os outros para as impor, usando um tom meio radical (ao invés de discutir), até as grandes nações que vem alimentando um sentimento nacionalista bizarro e não desejam mais se misturar com nada que não pertença à “pureza” de suas identidades. E é tudo a mesma coisa, no final das contas. Ninguém pode entrar na minha incrível bolha.
Até nos encontros afetivos parece ser assim também. Solteiros querem conhecer pessoas novas. Mas vão a esses encontros dentro de suas bolhas. O que sobra pra você conhecer da pessoa é aquilo que ela deixou do lado de fora, normalmente uma persona criada com o único intuito de paquerar. Nunca aquela pessoa autêntica, que é muito legal, mas que ela costuma ser apenas com amigos. Com os amigos não existe expectativa, não há nada que você queira conseguir, há apenas você, dizendo o que pensa, falando do que gosta e dando risada sem a mínima preocupação em esconder suas vulnerabilidades para parecer perfeito, invencível, sedutor. Eu, particularmente, acho essa pessoa de verdade muito mais legal. A versão conquistadora é muito mais pobre do que a original. E se eu pudesse dar um conselho à porção solteira da humanidade (aquelas pessoas que eu gostaria de conhecer, já que também estou nesse grupo), seria esse: quando você se interessar por alguém, seja a pessoa que você é com seus amigos. Apenas seja você mesmo e não tenha medo de nada. O que der certo a partir disso, será muito mais significativo. O que der errado, é porque não tinha mesmo nada a ver.
Talvez a gente tenha medo demais da intimidade. Medo da troca, medo de se misturar, como se, ao fazer isso, fossemos esquecer quem somos, fossemos nos perder de nós mesmos. Confesso que até eu mesma sofro com isso e, provavelmente, é por esta razão que resolvi falar sobre esse assunto hoje, depois de tanto tempo sem me manifestar. Aquele momento em que a gente entende que tudo isso TEM que mudar.
Seja qual for o contexto da vida (íntimo, social, político, cultural...) sou, definitivamente, a favor das misturas. Não há experiência mais empolgante do que alguém, gentilmente, te abrir uma porta para o seu mundo. Te convidar para conhecer suas ideias, sua cultura, sua forma de ver e compreender tudo o que está ao seu redor. Se o resultado dessa experiência te mudar, comemore. Não sinta que você abriu mão de ser quem você é. Ninguém veio pronto pra essa vida, ainda estamos construindo quem somos. E nunca conseguiremos fazer isso sozinhos. Partes de quem somos ainda estão espalhadas por aí, para a gente encontrar. Elas estão nas pessoas que encontramos, nos lugares que visitamos, em tudo o que estudamos, aprendemos e descobrimos que gostamos. O isolamento é necessário, de vez em quando, para refletir, para chegar a conclusões, para que a gente descanse, em uma porção de sentidos. Mas eleger isso como um modo de vida não nos desenvolve. A gente nasceu para se conectar.