Mapa do Destino

Às vezes me pego pensando se uma pessoa pode ter várias vidas. Não estou falando de reencarnação, mas de várias alternativas dessa mesma vida que a gente já tem, acontecendo paralelamente. Sabe aqueles momentos em que a gente se vê em frente a uma bifurcação na nossa história e tem que decidir se vai para um lado ou pra outro?  Como um jovem preenchendo uma inscrição para vestibular – quero ser médico, ou engenheiro? Como alguém que está em dúvida se quer namorar com uma pessoa ou com outra. Se vai viajar pro Rio ou pra Itália nas férias. Se vai a uma festa ou não vai. Se acordou na hora certa pra ir trabalhar, ou resolveu dormir mais 5 minutinhos, tomou outro ônibus, encontrou outras pessoas no caminho.

Fico imaginando que desdobramentos diferentes a vida teria trazido em cada uma dessas opções. Foi à festa e conheceu alguém por quem se apaixonou, depois casou e construiu uma família. Não foi à festa e passou dois anos curtindo a solteirice, mais tarde encontrou uma pessoa diferente, se casou e construiu outra família. Chegou antes da hora em casa, pegou o marido com outra e se divorciou. Chegou no horário certo e continuou casada por mais duas décadas sem nunca saber que foi traída.

Ser feliz, ou triste, bem-sucedido, ou fracassado, acomodado, ou aventureiro, parece que depende de segundos, dentro dessa lógica maluca. Estar na hora certa e no lugar certo - ou na hora errada e no lugar errado - pode variar de acordo com acontecimentos bastante triviais: um atraso e você não conheceu aquele que seria um grande amigo, na sala de espera do dentista. Como se em cada esquina dobrada, em cada encontro ou desencontro, um novo trajeto inteiro começasse a se desenhar. Como se o destino fosse reescrito e reinventado totalmente a cada escolha.

Na minha fantasia, imagino universos paralelos, um para cada versão de nós mesmos. Em cada um deles nós vivemos o resultado de escolhas diferentes. Me divirto pensando nesse montão de besteirinhas. Imagino uma Madonna não famosa, trabalhando numa loja de departamentos, cantando no chuveiro de casa, sonhando com a vida que poderia – sim, poderia – ter tido. Imagino um Bono Vox deputado, menos famoso, mais combatido, igualmente idealista. Penso em alguém normal que eu conheço na capa de alguma revista de celebridades. Porque às vezes a gente se pega pensando: esse cara tinha tudo pra ser famoso!

Penso na minha própria vida, em quantas trajetórias diferentes ela poderia ter tido, se tivesse feito outras escolhas. Entre todas as oportunidades que a vida me ofereceu para aprender, para me desenvolver, me realizar e ser feliz, será que estou em minha melhor versão? Aquela versão de destino na qual consegui evoluir mais como pessoa, extrair o máximo da experiência de viver?  Daí passo a pensar nas escolhas que ainda virão. O que cada uma delas guardará de surpresas para mim? O que estará oculto, escondido atrás de cada porta que eu decidir abrir? O que estará me esperando ao longo do caminho?

Por mais consciente que qualquer decisão seja, grande parte do que ela carrega ainda está oculta quando a tomamos. Escolher é um salto de fé – a leap of faith, como se diz em inglês. Dá medo de tomar a estrada errada? Dá sim. Mas talvez seguir por um caminho ou por outro, nem importe tanto. Talvez qualquer trajetória seja apenas um jeito diferente de aprender as mesmas lições. E em todas as diferentes histórias que a gente possa ter, sempre haja a mesma chance de sermos o melhor de nós mesmos.