O amor pode estar perto
Por quantas pessoas pelas quais poderíamos nos apaixonar passamos todos os dias?
Reto, sem apresentações, sem ouvir nomes, sem saber do que gostam e porque estão ali.
Aquele cara de camiseta preta, olhando no celular na sala de espera do dentista, a princípio nem tinha pinta de alma gêmea. Mas você nunca chegou a descobrir que ele gosta de rock e conhece um monte de músicas boas. Que ele é engraçado de fazer chorar de rir. Que ele cozinha bem e tem planos de conhecer o Egito, assim como você. Que quando ele ri, ele tem covinhas.
Aquela menina emburrada, na mesa ao lado no restaurante, tinha a maior cara de barraqueira. Ela estava num mau dia e você nem prestou mais atenção. Sei lá, não rolou aquele “plin”. Mas você nem chegou a descobrir que ela lê livros muito bons e fala um monte de línguas. Que é uma boa filha e tem uma família legal. Que ela adora frescobol e praia, como você. Que ela fica muito bem de azul.
Quantas chances de ser feliz cruzam nossos caminhos, sem a gente nem imaginar? Às vezes, parece que passamos pelos outros dentro de bolhas. Todo mundo junto e ao mesmo tempo separado. Como é que a gente resolve isso?
Fiquei aqui imaginando que talvez o amor não goste tanto da modernidade.
Gente moderna vive com pressa e quem está com pressa não presta atenção em ninguém.
Gente moderna vive estressada e quem faz cara de bravo acaba afastando as pessoas.
Gente moderna não tira os olhos do celular, e acaba não notando o que acontece ao seu redor.
Gente moderna vive preocupada com o futuro e quem vive assim pensa tanto no que ainda precisa fazer, que acaba se abstraindo do agora.
Tem gente moderna que, às vezes, nem conhece o próprio vizinho.
Gente moderna tem mania de achar que puxar assunto é ser inconveniente, diferente daquela sua tia velha que se deixar conversa até com o poste.
Nada disso é regra, mas, infelizmente, tem muita gente moderna que se esquece até de dar bom dia, boa tarde e boa noite. Afinal de contas, eu te conheço?
A modernidade parece um elevador lotado. Fica aquele monte de gente olhando pra cima, tentando fingir que o outro – que está ali grudado na gente- não existe. Sempre tenho vontade de rir dentro de elevadores.
Não é culpa de ninguém e, ao mesmo tempo, é culpa de todo mundo.
Mas a boa notícia é que o amor não se esgotou, apenas se esconde dentro de alguém, quem sabe, mais próximo do que a gente possa imaginar. Ele fica lá, esperando uma chance de dizer “olá”, naquela vida que a gente esqueceu de prestar mais atenção.